terça-feira, 8 de outubro de 2013

As cartas de Noca

Na família de Noca escrever era hereditário. Herança esta que ela descobriu cedo, brincando na máquina de escrever de sua avó. Aliás, sua avó materna foi sua grande mestra! Nos sábados a noite costumava ler suas poesias e cantar músicas da época que tentou carreira no rádio para sua neta, que ficava encantada... Na infância, Noca começou a rascunhar seus versinhos e passou a presentear seus amores com eles. Quando ela se apaixonava comunicava o garoto assim, por escrito! Os meninos eram muito novos e não compreendiam a profundidade daquela jovem mulher, que iniciava também naquela fase suas dores de desamores... Noca cresceu e com ela o carinho pelas palavras e seus significados. Um dia resolveu "organizar" todos os seus escritos  num local só e abrir seu livro para quem quisesse ver. Descobriu que era uma maneira de expressar seus sentimentos, diluir angústias, prosear, inventar liberdade... Conheceu pessoas que faziam algo parecido e passou a se corresponder com algumas delas. Diariamente, fizesse chuva ou sol, ela ia até a caixinha do correio e colocava sua mão lá dentro, coração aos pulos, ansiosa por suas cartas! Uma em especial sempre fazia seu peito bater mais forte e a respiração ficar ofegante. Mas teve um dia que a carta não chegou... Nem no outro, ou depois deste, seguinte a aquele... Os olhos de Noca molhavam seus papeis e ela relia as trocas mais antigas tentando reviver emoções de outrora. Aquele silêncio era cruel, doía em cada parte do corpo de Noca. Sentou-se mais uma vez em um canto qualquer e escreveu cartas para o vento e para o tempo. Aquelas que infelizmente você jamais vai ler...

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