quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

“Eu choro, ela chora, todas riem!”

A raiva e a decepção que ela sentia eram enormes, tão grandes que não cabiam em seu peito e escorriam intensamente por seu rosto, me ocorreu se é possível amar tanto assim alguém!
Ela pressionava seus olhos com tamanha força que me pareceu desejar estancar um corte, como se tentasse fazer suas lágrimas voltarem para dentro de seu coração pra de lá nunca mais fugirem...
Ferida!
Feridas!
Feridas de Guerra! De uma cruel batalha da qual ela não pode vencer e só lhe resta aceitar.
Eu observo a distância... Uma distância que não me permite tomá-la em meus braços e acalentá-la, dizer-lhe que ficará tudo bem, que esse amor realmente nunca vai se acabar, apenas vai se sentir cansado como um senhor de idade e adormecerá no fundo de suas lembranças.
Queria poder prometer que seria a última vez que ela sentiria aquilo, ou que qualquer garota sentiria! Mas não quero mentir também, chega de ilusões!
Da distância que estou ela não pode me ver ou me ouvir, talvez consiga apenas me sentir, porque eu sinto, sinto muito que ele não a ame, mas pode confiar porque disso eu sei, na hora certa – que nem está tão distante assim – ele, “o rosto” vai aparecer!

Ela está dentro de uma loja, sorri para as vendedoras, para as roupas, nem arrisca sorrir pra si mesma, tenta achar os vestidos bonitos, mas não está ali, não seus pensamentos ou seus sentimentos, não até aquele momento quando ela se olha no espelho e vê uma mulher que por sinal é de uma beleza tipicamente nacional, mas mesmo assim única...
Por um instante ela se observa e admira suas pernas grossas; seu quadril largo; sua cintura que ainda é pequena e desenhada; seus seios são belos, médios e belos; têm as mãos e os pés finos, dedos longos; seus freqüentemente elogiados lábios carnudos; seus grandes e expressivos olhos, seu cabelo cacheado e curto... Ela consegue sentir seu próprio perfume e é doce! Ela exala alegria de criança misturada a frutas, flores e terra molhada, seu cheiro é cor de laranja, azul, amarelo, vermelho e púrpura!
Ela cheira esperança!
Ela gosta do que vê e sente!
Então ela pensa que se ele a visse daquele jeito: linda, cheirando vida, delicada e desprotegida ele a amaria!
Ele!
Ela chora novamente, choro de dó e não de desespero...
Ela chora, a vendedora chora, a mãe chora... Todas elas riem!

É seu primeiro vestido de festa, haverá um casamento na família e ela vai sozinha.
Todos terão com quem dançar, ela ainda não.
Ela não sabe o que vai acontecer, mas da distância em que estou, eu já sei!
Ela já sabe pelo que precisará passar e o que não deve fazer, mas na hora certa – sim, sempre a hora certa! – ela vai entender!

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