segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

As dores de Dre

Ela olhou para o lado e não o encontrou na cama, levantou assustada e caminhou até a sala, encontrou Dre caído no chão. Ele se contorcia de dores e urrava, Ela tentava acalmá-lo com palavras e carinhos... Tudo em vão. Tirou forças sabe-se Deus de onde, tomou Dre nos braços e o carregou até o quarto. Ela perguntava aflita onde doía, ele apenas gritava “não”, aos poucos Ela foi perdendo a calma e se pois a fazer uma oração. Pediu a Deus, Jeová, Orumilá, Oxalá, Zeus, Zambi, Tupã... E Dre fechou os olhos e adormeceu. Ela aproveitou para examinar-lhe o corpo, olhou tudo, não encontrou nada, concluiu serem mazelas da alma. Abraçou Dre com força e também se perdeu no mundo dos sonhos.

Ela olhou para o lado e não o encontrou na cama, levantou assustada e caminhou até a sala, encontrou Dre sentado na poltrona, interruptor do abajur na mão. A cada passo que Ela dava na direção dele, Dre apagava a luz. Sem ver onde caminhava recuou, medo de invadir, medo de mergulhar para encontrá-lo e se perder. Voltou pro quarto, caiu na cama inundada por suas lágrimas e dormiu.

Ela olhou para o lado e não o encontrou na cama, levantou assustada e caminhou até a sala, Dre com cigarro na mão, andava de um lado para o outro resmungando a vida. Quando a viu saiu pela porta e sumiu no jardim. Ela voltou pro quarto e...

Dre não entendia que não adiantava tentar abafar ou esconder, na casa em que Ela foi criada não se aplica o ditado “o que os olhos não vêm o coração não sente”. Não “saber” só faz o peito dela doer.

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Histórias de Meadora: redenção

Meadora girou o corpo ficando de bruços, os ouvidos captavam o som do ukulelê que dentro dela ganhava a forma de seus pensamentos mais profundos. Meadora tentou lutar contra as vozes que vinham de dentro, procurou não se entregar as imagens que sua mente produzia... Tudo em vão! Restou a ela se render e preservar o fio de vergonha na cara que lhe sobrara.
Chorou com gosto, afundou no colchão, mergulhou na própria mágoa, em seus ressentimentos, se entregou a tristeza que a abraçava e apenas se debulhou em lágrimas!
Não queria tentar explicar em palavras o que sentia, não queria correr o risco de se tornar vilã ou carrasco por ser vítima de sua própria emoção.
Não respondia nada, apenas chacoalhava a cabeça em movimento de negação. Negação, quantas vezes o destino lhe negou amor? E quantas vezes mais seriam assim? Ela não se arrependia de nada que havia feito, mas sentia muita dor ao recordar de determinadas conversas, palavras... Aquelas frases que o tempo não apagou nem transformou “amor é uma vez só na vida e o meu foi ela!”

E quanto a Meadora, será amada um dia?

“O que é um sonho ruim,
E o que é um sonho bom.
Que diferença? a vida é igual”

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

A Mulher Invisível e o Homem de Sabão

Ela chegou ao restaurante primeiro e pediu a mesa perto da janela "a de sempre!" Ele atrasado como de costume, levou mais tempo, mas chegou e era isso que importava para a Mulher Invisível. O Homem de Sabão foi pegando o cardápio e abrindo enquanto se acomodava na cadeira:
- Estou faminto!
- Estou carente...
- A comida daqui é tão boa...
(silêncio)
- Sei que sou exagerada, mas...
- Garçom! Ei garçom, já escolhi!
- Bem, eu sou carente, insegura, sei que já falam...
- Este é o prato do dia?
- ...que já falamos sobre isso, mas ultimamente acho que vo...
- Com todos estes acompanhamentos?
- Você... Você anda meio...
- Peço o suco depois, agora aceito uma água com gelo!
- Eu...
- Bastante gelo!
- E para a madame? - perguntou o velho garçom olhando no fundo dos olhos molhados da Mulher Invisível.
- Uma caixa de lenço, uma cerveja e peça ao artista para cantar Gal Costa, Caetano e Elis!